Absurdo

Teatro do Absurdo é um nome muito divertido. Porém, é fácil se enganar quanto ao seu significado. Pensa-se logo em peças cheias de situações absurdas, sequências grotescas e frases sem sentido. Pode até ser o caso, como se vê nos diálogos da "Cantora Careca", de Ionesco, mas não é isso que define uma peça como "de absurdo". Foi Martin Esslin que cunhou o termo, em 1962, fazendo referência à filosofia de Albert Camus sobre a situação absurda da vida humana.

Sabe quando você acorda se perguntando qual o sentido da vida? Quem sou eu, de onde vim, pra onde vou? Que diabos estamos fazendo aqui? E se você se pergunta demais, começa a perder a esperança de achar resposta, e vai ficando deprimido... bom, tem gente que toma um comprimido e beleza, mas enfim, é esse assunto cabeludo que define o Teatro do Absurdo.

Camus apresenta sua Filosofia do Absurdo no ensaio O Mito de Sísifo (Le Mythe de Sisyphe), de 1942. Ele chama atenção para o fato de que passamos muito tempo nos preparando para o amanhã, sabendo que cada amanhã nos deixa mais próximos da morte, que é o inimigo final. As pessoas parecem viver como se não tivessem a certeza da morte futura e, uma vez retiradas as romantizações, o mundo torna-se um lugar estranho e inumano, privado de Deus e da Eternidade. Um lugar desconhecido, que a ciência e a racionalidade não são capazes de explicar completamente, sempre terminando em abstrações ou metáforas. Diante disso, Camus rejeita o suicídio – sem o homem, o absurdo não existe. A contradição deve ser vivida, e o absurdo confrontado com revolta constante.

Note que tanto o livro de Camus quanto o de Esslin foram publicados em tempos conturbados. As próprias obras tomadas como definidoras do "movimento" do Teatro do Absurdo foram todas publicadas na bagunça entre o fim da Segunda Guerra Mundial e o início da Guerra Fria - anos sombrios, em que o homem saía de um conflito generalizado (entre 35 e 60 milhões de mortos, e outros tantos feridos, espalhados por 62 países) para entrar numa paz instável, sob o constante temor de uma guerra atômica terminal. É de se entender que a teoria de Camus tenha conquistado seus adeptos...

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